sexta-feira, 23 de maio de 2008

Olhar Altivo


Olhar altivo, desejo fixo e convicto de ser acima. Acima de tudo, à frente de tudo. Contudo, carente quase sempre de tudo. De tudo que na verdade o leva a nada. Nada... Bagagem pesada... Know-how de vida em vácuo.
Cheio de si, olhar içado pelo ego, segue transbordando arrogância, promovendo distância, corroendo intimidade, obscurecendo a verdade. Verdade do eu no avesso. Avessa a verdade preconizada por pseudo-realidade. Realidade em desigualdade com a pretensa deidade. Deidade coroada pela própria vaidade. Vaidade que se dilui na ambigüidade. Ambigüidade própria da humanidade. Humanidade caída, trôpega e sem vida.
Claudio Alvares.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

O Olhar do Sonhador

Sonho! Mar de desejos, vislumbres, anseios, universo de imagens, tiragens ilimitadas, edições não censuradas do prazer. Prazer de fazer acontecer. Ser sem precisar ter. Ter liberdade pra viver. Viver sem nada reter. Sonho! Flashes, fachos de luzes, reflexos, reversos do eu, do eu no avesso, do avesso do olhar, da imagem do avesso. Sonho! Reminiscências, complexo de carências, arquétipo da inconsciência. Sonho! Movimento involuntário do pensamento, princípios, valores, regras e delatores da culpa arrastados pela força do vento. Vento onírico que proclama alforria de impulsos da libido e liberta desejos encarcerados nos calabouços do recalque. Sonho! Tratado de paz com os verdugos da consciência. Consciência, campo minado desativado pelo ato de sonhar. Sonhar! Ah! Sonhar...Imaginar, criar, andar, desentrincheirar idéias, romper conceitos e preconceitos, transpor o inimaginável. O olhar de quem sonha rompe fronteiras, sobretudo, as delimitadas pelo medo. Medo de ser, fazer e acontecer.
Ser é Sonhar, estreitar o espaço entre irreal e real, entre abstrato e concreto, entre ideal e factível.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O Olhar Inferiorizado

Se o megalomaníaco possui um zoom positivo em seu olhar sobre si e sobre o mundo. O olhar do inferiorizado possui um zoom negativo sobre si e um zoom positivo sobre o mundo. Mundo superlativo sobre o eu no diminutivo. Diminuído, esmilingüido, subtraído pelo próprio olhar. Ou será pelo olhar que foi visto? Visto no começo, no tempo do apreço, quando o eu não era mais que um mero verso composto pela pena olhar. Olhar que descreve. Visão que escreve o mundo do avesso, do avesso do olhar, da imagem do avesso. O inferiorizado vê-se pior do que parece e melhor do que merece. Minorado perece, ecoando lamentos. Desvanece-se escoando talentos, habilidades, conhecimentos que em si mesmo desconhece. Potência velada, imagem calada, reflexa do nada. Que nada! Nada se define menor que nada. E se nada, nada é logo não existe o nada. O nada sempre será pano de fundo de tudo. De tudo que o nada define. Definitivamente, está na mente a imagem que mente. Mente a si mesmo, mesmo sem saber, mente sem querer. Querer ser além da composição do próprio olhar. Olhar, ver e não ver como se é. Ver-se menor, menor que a maior de todas as verdades: A realidade do eu, doeu no avesso.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O Olhar Megalomaníaco

A megalomania anda de mãos dadas com a soberba, com o orgulho e com a vaidade. Desconhece o caminho do íntimo e da verdadeira simplicidade. Simplesmente, sofisticadamente mente. Mente descontente segue cegamente vendo só à frente, telescopicamente.

O megalomaníaco vê o mundo de outro mundo. Mundo de ego inflado, superestimado, macro dimensionado e fixado nas bases do ser. Ser primeiramente visto, percebido, atribuído, codificado.

Ser semeado de idéias, sonhos e projetos superlativos. Lupa sobre o inconsciente, realidade latente, desejo emergente. Gente que vê assim como sente. Sente mais do que pensa. Pensa mais do é. É menos do que pensa. Pensa, logo existe. Existência macro idealizada, vivência micro realizada.

O Megalomaníaco despreza os humildes começos. Começa na linha de chegada e assim vai. Vai a longas passadas, passando, passando e ficando pra trás. Traz na bagagem vazia a ânsia, a agonia, expectativa de sempre mais. Mais que o normal, que o reles, o casual.

Extraordinariamente, abstém-se do simples, do singelo, do detalhe relevante. O particular, o íntimo, o profundo perde seu lugar.

Sem lugar singular pro seus sonhos ancorar, o megalomaníaco segue a navegar num oceano de vastas possibilidades, de mistérios, de “verdades”. Verdade, na verdade, só a sua: nua e crua. Napoleonicamente, seus braços abraçam a lua.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O Olhar do Narcisista

Um dia disse alguém que não se deve pensar de si mesmo além do que convém. Ora, veja bem! Como pensar além, sem ver-se muito bem? Ver-se, ater-se, não se conter e ver-se muito mais. Mais do que é visto, isto e muito mais! Mais que mais!

Cada vez mais absorvido pelo próprio olhar não percebe o perigo de por si se encantar. Encanto enquanto olhar. Olhar tanto quanto amar. Amar-se e iludir-se no enlace do olhar. Olhar encarcerado pelo desejo. Desejo pelo próprio ser. Ser projetado, manufaturado pelo olhar. Olhar de quem olha pra se auto-admirar. Há de mirar, sentir e focar, até que se funda em si mesmo a imagem do olhar. Olhar e ver-se e vice e versa.

Ver mais que se é. Ser no próprio olhar, submerso no seu finito universo. Universo de o próprio olhar. Olhar que vai e vem até não mais voltar.

sábado, 27 de outubro de 2007

O Olhar do Invejoso

A inveja é como uma mercadoria estragada que jamais deveria ser comprada, mas não conheço ser algum que dela não tenha nada. Nada está na fronteira do tudo. Tudo que desejo quase sempre vem do nada. Nada que almejo vem do nada. A inveja na verdade é a falsificação do ser. Ser ou não ter? Eis a questão! O olhar do invejoso busca ter o ser. Ter outro ser. Ser outro ser. Outro ser em seu próprio ser. No Olhar do invejoso está a cegueira, a morte e a loucura. Está também a fuga e a procura. Procura do ser no avesso, do avesso do olhar, da imagem do avesso. A fuga? Fuga do nada. Fuga do tudo. Fuga de si. Fuga de tudo que vê. E de tudo que não vê. Ou será a procura do ser morto no olhar? No olhar que é visto, no olhar que se vê. No olhar do invejoso está a loucura, traduzida pela fissura de ter o que o outro é. Aliás, o invejoso não é, quer apenas ser através de outro ser. Mas como ser outro enquanto o outro ainda é? Como pode a inexistência dar lugar a existência? Mesmo por insistência tal jamais sucederá. No entanto, o invejoso de tudo fará para deixar de ser nada. Fará tudo pra aniquilar, suprimir, degenerar. Degenerar o outro que no olhar invejoso usurpou o seu lugar. O invejoso não quer apenas ter ou ser o que o outro tem ou é. O invejoso quer não ser o que ele mesmo é.



segunda-feira, 15 de outubro de 2007

O Olhar do Louco


Se de médico e louco cada um tem um pouco, me aventuro pensar um pouco sobre o olhar do louco. Louco, maluco, doido varrido. Varrido, execrado do mundo. Do mundo dos loucos normais, das normas e conjecturas sociais, das formas e similaridades do ser análogo. Ser fora do avesso, do avesso do olhar, da imagem do avesso. Ser comum, igualitário. Ser que é visto no astigmatismo do olhar. Olhar na lente turva da padronização: normal versus anormal. Anormal. Quem é o tal? Tal qual nenhum outro, cada louco, pouco a pouco vai ficando sem igual. Igual? Nem pensar! Muito menos no pensar. Pensar, sonhar, imaginar, criar, realizar... Realizar, tornar real, tornar-se real. Afinal, o que é real realmente? O real mente? Mente realmente?

terça-feira, 9 de outubro de 2007

O Olhar do Morto


Se o olhar do cego pode mostrar o que não se quer ver, que dizer do olhar do morto? Morto no corpo, “vivo” no olhar. Olhar de olhos mortos. Se o corpo fala, os olhos GRITAM!! A morte silencia a voz e amplifica a linguagem do olhar. Do olhar do morto no olhar do vivo.

Corpo estático, olhos abertos, olhos parados, envidraçados e fitos. Fitos no infinito, no infinito das nossas culpas, descaso e desculpas. Melhor fechá-los, melhor não vê-los, silencia-los, melhor conte-los. O que está morto e enterrado dentro de nós, ganha vida no olhar do morto. Antes que se feche a caixa fúnebre, são abertas as sepulturas da nossa alma lúgubre, onde construímos covas profundas, sepultamos as experiências de crescimento pessoal, exumadas pelo olhar do morto. Olhar que descortina o íntimo e o põe na vitrine da consciência.