terça-feira, 20 de novembro de 2007

O Olhar do Sonhador

Sonho! Mar de desejos, vislumbres, anseios, universo de imagens, tiragens ilimitadas, edições não censuradas do prazer. Prazer de fazer acontecer. Ser sem precisar ter. Ter liberdade pra viver. Viver sem nada reter. Sonho! Flashes, fachos de luzes, reflexos, reversos do eu, do eu no avesso, do avesso do olhar, da imagem do avesso. Sonho! Reminiscências, complexo de carências, arquétipo da inconsciência. Sonho! Movimento involuntário do pensamento, princípios, valores, regras e delatores da culpa arrastados pela força do vento. Vento onírico que proclama alforria de impulsos da libido e liberta desejos encarcerados nos calabouços do recalque. Sonho! Tratado de paz com os verdugos da consciência. Consciência, campo minado desativado pelo ato de sonhar. Sonhar! Ah! Sonhar...Imaginar, criar, andar, desentrincheirar idéias, romper conceitos e preconceitos, transpor o inimaginável. O olhar de quem sonha rompe fronteiras, sobretudo, as delimitadas pelo medo. Medo de ser, fazer e acontecer.
Ser é Sonhar, estreitar o espaço entre irreal e real, entre abstrato e concreto, entre ideal e factível.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O Olhar Inferiorizado

Se o megalomaníaco possui um zoom positivo em seu olhar sobre si e sobre o mundo. O olhar do inferiorizado possui um zoom negativo sobre si e um zoom positivo sobre o mundo. Mundo superlativo sobre o eu no diminutivo. Diminuído, esmilingüido, subtraído pelo próprio olhar. Ou será pelo olhar que foi visto? Visto no começo, no tempo do apreço, quando o eu não era mais que um mero verso composto pela pena olhar. Olhar que descreve. Visão que escreve o mundo do avesso, do avesso do olhar, da imagem do avesso. O inferiorizado vê-se pior do que parece e melhor do que merece. Minorado perece, ecoando lamentos. Desvanece-se escoando talentos, habilidades, conhecimentos que em si mesmo desconhece. Potência velada, imagem calada, reflexa do nada. Que nada! Nada se define menor que nada. E se nada, nada é logo não existe o nada. O nada sempre será pano de fundo de tudo. De tudo que o nada define. Definitivamente, está na mente a imagem que mente. Mente a si mesmo, mesmo sem saber, mente sem querer. Querer ser além da composição do próprio olhar. Olhar, ver e não ver como se é. Ver-se menor, menor que a maior de todas as verdades: A realidade do eu, doeu no avesso.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O Olhar Megalomaníaco

A megalomania anda de mãos dadas com a soberba, com o orgulho e com a vaidade. Desconhece o caminho do íntimo e da verdadeira simplicidade. Simplesmente, sofisticadamente mente. Mente descontente segue cegamente vendo só à frente, telescopicamente.

O megalomaníaco vê o mundo de outro mundo. Mundo de ego inflado, superestimado, macro dimensionado e fixado nas bases do ser. Ser primeiramente visto, percebido, atribuído, codificado.

Ser semeado de idéias, sonhos e projetos superlativos. Lupa sobre o inconsciente, realidade latente, desejo emergente. Gente que vê assim como sente. Sente mais do que pensa. Pensa mais do é. É menos do que pensa. Pensa, logo existe. Existência macro idealizada, vivência micro realizada.

O Megalomaníaco despreza os humildes começos. Começa na linha de chegada e assim vai. Vai a longas passadas, passando, passando e ficando pra trás. Traz na bagagem vazia a ânsia, a agonia, expectativa de sempre mais. Mais que o normal, que o reles, o casual.

Extraordinariamente, abstém-se do simples, do singelo, do detalhe relevante. O particular, o íntimo, o profundo perde seu lugar.

Sem lugar singular pro seus sonhos ancorar, o megalomaníaco segue a navegar num oceano de vastas possibilidades, de mistérios, de “verdades”. Verdade, na verdade, só a sua: nua e crua. Napoleonicamente, seus braços abraçam a lua.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O Olhar do Narcisista

Um dia disse alguém que não se deve pensar de si mesmo além do que convém. Ora, veja bem! Como pensar além, sem ver-se muito bem? Ver-se, ater-se, não se conter e ver-se muito mais. Mais do que é visto, isto e muito mais! Mais que mais!

Cada vez mais absorvido pelo próprio olhar não percebe o perigo de por si se encantar. Encanto enquanto olhar. Olhar tanto quanto amar. Amar-se e iludir-se no enlace do olhar. Olhar encarcerado pelo desejo. Desejo pelo próprio ser. Ser projetado, manufaturado pelo olhar. Olhar de quem olha pra se auto-admirar. Há de mirar, sentir e focar, até que se funda em si mesmo a imagem do olhar. Olhar e ver-se e vice e versa.

Ver mais que se é. Ser no próprio olhar, submerso no seu finito universo. Universo de o próprio olhar. Olhar que vai e vem até não mais voltar.

sábado, 27 de outubro de 2007

O Olhar do Invejoso

A inveja é como uma mercadoria estragada que jamais deveria ser comprada, mas não conheço ser algum que dela não tenha nada. Nada está na fronteira do tudo. Tudo que desejo quase sempre vem do nada. Nada que almejo vem do nada. A inveja na verdade é a falsificação do ser. Ser ou não ter? Eis a questão! O olhar do invejoso busca ter o ser. Ter outro ser. Ser outro ser. Outro ser em seu próprio ser. No Olhar do invejoso está a cegueira, a morte e a loucura. Está também a fuga e a procura. Procura do ser no avesso, do avesso do olhar, da imagem do avesso. A fuga? Fuga do nada. Fuga do tudo. Fuga de si. Fuga de tudo que vê. E de tudo que não vê. Ou será a procura do ser morto no olhar? No olhar que é visto, no olhar que se vê. No olhar do invejoso está a loucura, traduzida pela fissura de ter o que o outro é. Aliás, o invejoso não é, quer apenas ser através de outro ser. Mas como ser outro enquanto o outro ainda é? Como pode a inexistência dar lugar a existência? Mesmo por insistência tal jamais sucederá. No entanto, o invejoso de tudo fará para deixar de ser nada. Fará tudo pra aniquilar, suprimir, degenerar. Degenerar o outro que no olhar invejoso usurpou o seu lugar. O invejoso não quer apenas ter ou ser o que o outro tem ou é. O invejoso quer não ser o que ele mesmo é.



segunda-feira, 15 de outubro de 2007

O Olhar do Louco


Se de médico e louco cada um tem um pouco, me aventuro pensar um pouco sobre o olhar do louco. Louco, maluco, doido varrido. Varrido, execrado do mundo. Do mundo dos loucos normais, das normas e conjecturas sociais, das formas e similaridades do ser análogo. Ser fora do avesso, do avesso do olhar, da imagem do avesso. Ser comum, igualitário. Ser que é visto no astigmatismo do olhar. Olhar na lente turva da padronização: normal versus anormal. Anormal. Quem é o tal? Tal qual nenhum outro, cada louco, pouco a pouco vai ficando sem igual. Igual? Nem pensar! Muito menos no pensar. Pensar, sonhar, imaginar, criar, realizar... Realizar, tornar real, tornar-se real. Afinal, o que é real realmente? O real mente? Mente realmente?

terça-feira, 9 de outubro de 2007

O Olhar do Morto


Se o olhar do cego pode mostrar o que não se quer ver, que dizer do olhar do morto? Morto no corpo, “vivo” no olhar. Olhar de olhos mortos. Se o corpo fala, os olhos GRITAM!! A morte silencia a voz e amplifica a linguagem do olhar. Do olhar do morto no olhar do vivo.

Corpo estático, olhos abertos, olhos parados, envidraçados e fitos. Fitos no infinito, no infinito das nossas culpas, descaso e desculpas. Melhor fechá-los, melhor não vê-los, silencia-los, melhor conte-los. O que está morto e enterrado dentro de nós, ganha vida no olhar do morto. Antes que se feche a caixa fúnebre, são abertas as sepulturas da nossa alma lúgubre, onde construímos covas profundas, sepultamos as experiências de crescimento pessoal, exumadas pelo olhar do morto. Olhar que descortina o íntimo e o põe na vitrine da consciência.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

O Olhar do Cego



O olhar do cego. O olhar do cego? Sim, o olhar deste que não vê. Que não vê o mundo que vemos, mas que vê o mundo que não queremos ver. Mas, como? Como se pode ver sem enxergar? Como alguém que vive na escuridão, pode ver além de alguém que a tudo pode ver? Tudo? Tudo pode ser quase nada na imensidão do universo do ser. Ser, mas ser no avesso. Aquele do avesso do olhar, da imagem do avesso. Aquele ser que até um cego pode ver, mas, que nos fazemos cegos para não ver. Ver ou não ver? Eis a questão! Quando se trata do próprio ser, melhor cego ser, do que ver o ser que é sem querer ser. Mas como pode o cego ver o ser que é negado? Negado! Eis a resposta. O que não quero ver, até um cego pode ver. Na verdade, o cego me olha e eu é que me vejo. Vejo-me através do olhar do outro. Mesmo que o outro nada enxergue do que muitos podem ver. Outro olhar revela o outro que nem todos podem ver. Somos como cegos quando não olhamos para nós mesmos com a devida honestidade. Colocamos vendas em nossos próprios olhos e andamos tateando na escuridão da nossa covardia, esbarrando e tropeçando em nosso autodesconhecimento. Apagadas as lâmpadas da autoconsciência, acendemos os refletores da hipocrisia, andamos na penumbra da superficialidade até nos encontrarmos em densa escuridão. Assim como cegos vivemos, olhando para nós mesmos sem nos enxergarmos.

Primeiros Olhares


Não há nada tão puro quanto o olhar de uma criança.
É um olhar que absorve, que introjeta, que constrói, que interpreta, que transforma dados em pensamento, pensamento em sonhos e sonhos em realidade, realidade no avesso, no avesso do olhar, na imagem do avesso. É o olhar que modela é o olhar que revela o mundo no avesso, o mundo do avesso, do avesso do olhar, da imagem do avesso. São milhares de estímulos, que em fluxo intenso e contínuo, se alojam, se deslocam em desordens sinapses, riscando o universo psicofisiológico, traçando o esboço, nem sempre tão lógico, desenhando as bases do ser. Ser que será ser do olhar. Do olhar que é visto. Do olhar que vê. Que vê como foi visto, traduzido no avesso. No avesso do olhar, na imagem do avesso.
Íntimo desconhecido, parceiro ambíguo é o olhar que se vê. Que se vê no olhar do outro, que se vê no próprio olhar. Olhar que separa e aglutina, istmo entre tu e eu. Eu no avesso, no reverso do olhar, na imagem do avesso.